"Bolsonaro já mandou embora, quase sempre por interferência dos filhos, seis generais. Agora, além de Ramos, já esvaziado, outros dois estão sob ameaça, Luiz Carlos Pereira Gomes, na EBC, e Floriano Peixoto Vieira Neto, nos Correios", escreve o jornalista Moisés Mendes
(Brasília - DF, 26/05/2020) Palavras do Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos. (Foto: Anderson Riedel/PR) |
Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democraia
Bolsonaro recriou o Ministério das Comunicações para resolver duas necessidades: ampliar a presença do centrão no governo e resgatar o poder da comunicação convencional, que vinha sendo desprezada. Só isso? Claro que não.
Bolsonaro acolhe o genro de Silvio Santos para tentar ampliar sua base política, o que é uma conclusão acaciana. O que não dizem é o que pode estar encoberto nesse movimento, para muito além de um arranjo que o próprio centrão desconhecia.
O novo ministério deixa desconfortável o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. E desconfortável é uma palavra suave pera o constrangimento que passa a enfrentar.
É provável que o general estivesse atrapalhando as expectativas dos Bolsonaros na gestão da política e das verbas de propaganda do governo, ou que viesse a atrapalhar planos mais ambiciosos.
O constrangimento é provocado pela primeira consequência prática. Há um esvaziamento da Secretaria de Ramos como ministério que cuidava das contas. O novo ministro, deputado Fábio Faria (PSD-RN), assumirá a distribuição da dinheirama da propaganda. Mas apenas como formalidade.
O personagem da mudança, o homem do oculto Ministério da Propaganda, como já vem sendo chamado, é o chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten, chegado a Bolsonaro e aos filhos, e que nunca teve boas relações com Ramos, a quem era até agora subordinado.
O movimento que retira Wajngarten do guarda-chuva da Secretaria de Governo, para transformá-lo no subministro do Ministério das Comunicações ao lado de Faria, confirma que Bolsonaro quer se livrar de um incômodo com Ramos.
O chefe da Secom vira secretário-executivo das Comunicações. Wajngarten leva junto a atribuição de cuidar das verbas da propaganda. Coisa de mais de R$ 1 bilhão.
O apetite por verba nessa área é tanto que Bolsonaro chegou a remanejar R$ 83,9 milhões do Bolsa Família do Nordeste para a Secom de Wajngarten. O escândalo foi denunciado e ele teve de recuar, até pela reação dos militares.
Pois é Wajngarten quem vai continuar cuidando desse caixa, agora com mais poder. O que importa é que estará fora do alcance de Ramos e agora ao lado de Faria. O homem muda de função para trabalhar mais à vontade. O resumo é esse: Faria pode ser apenas o laranja de Wajngarten
O general (que ainda está na ativa) foi arredado para um lado porque poderia estar atrapalhando alguns negócios da família, ou viria a atrapalhar uma etapa do vale-tudo para salvar Bolsonaro? Um dia talvez venhamos a saber.
Coisa graúda está sendo armada no novo ministério, para muito além da distribuição de cargos e fortalecimento da trincheira bolsonarista no Congresso. E tem gente da grande imprensa preocupada com a EBC e os Correios.
Ramos é mais um general que, talvez por não entender direito o funcionamento dos Bolsonaros e seus interesses ou não se submeter a todas as ordens recebidas, pode estar a perigo.
Bolsonaro já mandou embora, quase sempre por interferência dos filhos, seis generais. Agora, além de Ramos, já esvaziado, outros dois estão sob ameaça, Luiz Carlos Pereira Gomes, na EBC, e Floriano Peixoto Vieira Neto, nos Correios.
É dura a vida de alguns generais que decidiram compartilhar o poder com os Bolsonaros e os filhos dele. Mas os generais devem saber o que as Forças Armadas e eles ganham com esse sacrifício.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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