"É uma submissão tão explícita, que deveria até envergonhar”, indignou-se o ex-chanceler, em entrevista a Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia. “Qual o objetivo de explicitar tanto esta relação?”, indagou
Celso Amorim: a caça às bruxas no governo Bolsonaro (Foto: Brasil247 | ABr) |
O embaixador lembra que “o artigo 4º fala do relacionamento internacional. O primeiro parágrafo é precisamente sobre a independência nacional”, sublinha. E prossegue: “veja bem, não teria nada demais ele fazer uma visita em um tempo que fosse normal, se ele visitasse outras embaixadas também. Cada presidente tem lá uma escolha. Agora, ir com aquela equipe toda, em um ambiente desfrutável, de estar confraternizando… Só faltou comer melancia com sal e pimenta para se identificar mais lá com os norte-americanos”, ironizou.
Celso Amorim destacou outro ponto altamente condenável, na atitude de Bolsonaro: “junta isto, com a bandeira dos Estados Unidos, com a de Israel, do lado dele… Eu, no plano simbólico, acho que os militares dão muita importância, não é uma coisa boa. Não é uma coisa boa estar lá com os ministros militares, com o ministro da Defesa, ministro das Relações Exteriores… Gente, é uma submissão tão explícita, que deveria até envergonhar”, reage, demonstrando o seu grau de indignação.
Intrigado, Amorim se pergunta: “qual o objetivo de explicitar tanto esta relação?”, para logo emendar: “Não sei. É para agradar alguém. Deve ter alguém que vê e ache que isto está bem. Eu sinceramente não consigo compreender o que é que isto traz de ganho para o próprio governo, junto a uma parte considerável, inclusive uma parte conservadora, que gostaria de ver pelo menos uma certa decência nas ações e nas imagens”.
Visivelmente constrangido com a situação, nada usual nas relações internacionais, o chanceler termina buscando num dito chinês, o resumo para tamanha vergonha: “como dizem os chineses, uma imagem vale mais do que mil palavras, então, eu não preciso dizer mais nada”.