Desde 2016 os brasileiros estão sendo penalizados pela política de preços adotada pela Petrobrás em suas refinarias, chamada de Preço de Paridade de Importação – PPI, que beneficia os produtores estrangeiros
16/10/2019. REUTERS/Sergio Moraes (Foto: REUTERS/Sergio Moraes) |
Introdução
Desde junho, filiados da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Aopa) vem denunciando problemas na gasolina de aviação distribuída no Brasil, com graves consequências para a segurança dos voos.
A única refinaria que produz este tipo de gasolina na América do Sul é a Refinaria Presidente Bernardes Cubatão – RPBC, no litoral santista. A unidade de produção de gasolina de aviação desta refinaria foi paralisada para manutenção em setembro de 2018, não retornando à atividade desde então.
Segundo Carlos Martins, editor-chefe da Aeroin (maior site de aviação do Brasil) “Agora novas informações indicam que a Petrobrás já sabia de uma diferença na qualidade da gasolina de aviação importada, antes mesmo de comercializá-la e bem antes de dar problemas nos aviões. O fato foi revelado pelo Jornal da Band, que obteve acesso exclusivo a documentos de análise do lote importado do Golfo do México”.
Até hoje a Agência Nacional de Petróleo não se pronunciou sobre o assunto mesmo tendo entre suas atribuições “a proteção dos interesses dos consumidores quanto ao preço, qualidade e oferta dos produtos (combustíveis)”.
Desde 2016 os brasileiros estão sendo penalizados pela política de preços adotada pela Petrobrás em suas refinarias, chamada de Preço de Paridade de Importação – PPI, que beneficia os produtores estrangeiros. Ficam as perguntas:
- De que importa sermos autossuficientes em produção de petróleo?
- De que importa termos uma empresa (Petrobras) líder mundial em produção em águas profundas e ultra profundas?
- De que importa termos descoberto as reservas do pré-sal?
Sem dúvida, nada disto tem sentido pois não se reflete em benefício do consumidor brasileiro e da economia da nação. A política de preços adotada (PPI) transfere os benefícios do petróleo para o exterior. Até quando isto vai permanecer?
Por onde anda o Ministério Público Federal -MPF e as Comissões de Defesa do Consumidor do Congresso Nacional?
A Royal Dutch Shell é uma das maiores beneficiárias da atual política de preços da Petrobrás. A empresa produz no Brasil mais de 350 mil barris dia de petróleo e importa de suas refinarias no Golfo do México mais de 200 mil barris dia de combustíveis.
Podemos dizer que a Shell já substituiu a Petrobrás como empresa “do poço ao posto”. A diferença é que o refino é feito no exterior.
Se a ANP não tem controle sobre a qualidade de combustíveis utilizados em aviação, o que podemos imaginar que esteja acontecendo com relação aos combustíveis para automóveis e caminhões?
Cláudio da Costa Oliveira
Economista aposentado da Petrobras