PM apreendeu moto de entregador e ela ‘sumiu’ do sistema do Detran: ‘Fui roubado pela polícia?’

por Caê Vasconcelos

Francisco Bruno Brito da Silva, 26 anos, foi abordado ao lado de entregador que gritou “não consigo respirar” durante ação policial em SP na terça-feira (14/7)


Foto: Reprodução
Francisco Bruno Brito da Silva, 26 anos, teve a moto apreendida e ela “sumiu” dos sistemas da PM e do Detran após ato por melhoria para os entregadores | Foto: Reprodução

Desde terça-feira (14/7), Francisco Bruno Brito da Silva, 26 anos, não sabe onde está a sua motocicleta. Ele foi abordado por PMs após um ato contra a precaridade do trabalho dos entregadores que trabalham para aplicativos. Na ação, Bruno teve a sua moto apreendida e Jefferson André da Silva, 23 anos, foi torturado pelos PMs.

Todos os dias, de lá para cá, Bruno tem ligado para a Polícia Militar e para o Detran para saber da sua motocicleta, mas o veículo “sumiu” do sistema. “Como que apreenderam a minha moto e ninguém sabe onde tá? Eu fui roubado pela polícia?”, questiona o entregador. O caso é acompanhado pela Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio.

Há 3 anos, Bruno “sobrevive e vive” com a sua motocicleta. Trabalha de 10 a 12 horas diárias com entregas por aplicativo. “Agora, além de não poder trabalhar, ainda tá subindo o valor do pátio. Além de não ver a cor do dinheiro, ainda vou ter que pagar esse valor que só tá subindo porque a moto não aparece”, desabafa.

No dia do ato, conta Bruno, logo no começo da manifestação, “tudo estava estranho”. Os entregadores foram informados pelo Sindicato dos Motoboys de São Paulo e Região que não deviam cobrir as placa das da motocicletas. As placas são cobertas pelos entregadores para evitar multas, mas, naquele dia, foram informados que a PM estaria ali apenas para preservar a segurança do ato, não os multaria.

“Ninguém tampou as placas, já que a polícia estaria com a gente. Mas, quando a gente passou pelo primeiro semáforo, tinha uma viatura parada que começou a anotar o maior número de placas possível. Aí a galera começou a ficar brava. Já estamos a precaridade, lutando pelo nosso direito, tomar uma multa e perder a habilitação não daria certo”, explica Bruno.

“A rapaziada ficou brava e foi falar com os policiais. Chegaram outros policiais, já com spray de pimenta querendo partir para a agressão”, relata. Segundo o entregador, os advogados do sindicato foram intervir. “Do outro lado da avenida, tinha outra policial anotando as placas também e começou um outro tumulto”, completa.

Nesse momento, ele desceu da sua moto e foi em direção ao tumulto. Ele acredita que foi nesse momento que um colega cobriu a sua placa, mas ele só foi perceber depois. “Enquanto as motos estavam em comboio, os policiais não fizeram nada. Mas quando estávamos sozinhos a história foi outra”, detalha o entregador.

Bruno parou com um amigo em uma oficina para ver um defeito na moto, nesse momento os outros entregadores seguiram o caminho. Quando ele saiu da oficina, no primeiro semáforo, foi abordado com Jefferson. “A polícia viu a bandeira do sindicato e mandou eu encostar, com toda a ignorância em cima de mim”, denuncia.

“Eu vi que a polícia estava empurrando o Jefferson para dentro do porta-mala e ele com a mão levantada. Os policiais falando para ele não resistir e ele respondendo que não estava resistindo. Aí eu perguntei o que estava acontecendo e ele [o PM] me xingou de tudo que é nome. Só fui conseguir falar duas horas depois. Quando eu vi minha placa, pensei ‘ferrou'”, lamenta.

O entregador conta que a polícia tentou de tudo para causar a mesma situação que aconteceu com Jefferson e, assim, o agredir. “Tiraram foto da bandeira do sindicato com a minha placa tapada. Eles ficaram falando que foi o sindicato que mandou tapar as placas”.

“A maioria dos motocas foram embora com medo de ter a moto apreendida ou tomar multa. Eles [policiais] conseguiram o que queriam, que era desmembrar o movimento”, completa.

Bruno teve a moto apreendida e Jefferson foi encaminhado para o 14º DP (Pinheiros). “Perguntei em qual DP iam levar o Jefferson e um dos PMs que ficou comigo falava que tinham prendido ele, que ele estava com ‘os ladrão'”, finaliza.
Outro lado

A reportagem procurou a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, a Polícia Militar e o Detran e aguarda retorno.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem