"Numa conjuntura de pandemia e recessão agravada, só o Estado pode garantir estímulos ao consumo das famílias mais pobres", escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia
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Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia
Só a crueldade absoluta explica a recusa do governo Bolsonaro para prorrogar o pagamento do auxílio emergencial aos 58 milhões de brasileiras e brasileiros que venceram várias armadilhas tecnológicas e burocráticas para ter acesso a três pagamentos de 600 reais -- 57% de um salário mínimo -- por três meses.
Sabemos que não se deve esperar reações humanitárias por parte de um presidente cuja prioridade confessa é distribuir armas a população.
Capaz também de tungar a aposentadoria dos mais pobres para engordar privilégios dos já privilegiados, não há porque contar com seu respeito pela dignidade da maioria desamparada.
Depois de entregar o patrimônio nacional -- o próximo alvo é a Eletrobrás -- seria muita ingenuidade imaginar qualquer preocupação com o destino de um país de 210 milhões e um potencial de desenvolvimento reconhecido pelos melhores estudiosos.
Apesar dessas considerações, que devem servir de alerta para as dificuldades à frente, a renovação do auxílio emergencial é uma necessidade urgente.
Atende às prioridades de uma nação que, apesar do mais nocivo presidente de sua história, não renuncia a ter um futuro. É reagir ou sucumbir.
Muito antes da terrível pandemia que jogou o Brasil em primeiro lugar na contabilidade óbitos/dia, o país já tinha aprendido que não se constrói uma vida social saudável por cima de uma população miserável.
Trata-se, hoje, de retomar uma lição que nunca pode ser abandonada.
Com a economia em estado comatoso pela falta de demanda na sociedade, em particular nas camadas mais pobres, é preciso retomar o debate de 30 de março, quando o auxílio foi aprovado pelo Congresso.
Cabe, ainda, lutar para garantir o retorno à proposta original -- auxílio de R$ 1200.
Os números oficiais justificam a preservação do auxílio emergencial, com base nos valores originais.
No primeiro trimestre de 2020, quando a fraqueza congênita da economia Guedes-Bolsonaro encontrou-se com os primeiros sinais da pandemia do coronavirus, a recessão chegou a 1,5% negativos.
A partir de abril, já neste desastre a vista de todos, as previsões falam em alarmantes 6% negativos.
O nome disso é política fiscal e todo calouro de economia sabe do que se trata. Utilizando o poder do Estado para emitir moeda, cabe aos governantes garantir estímulos necessários para impedir um desastre completo, receita que o capitalismo aprendeu nos anos 30, quando começou a vencer o colapso de 1929.
É reagir ou sucumbir.
Alguma dúvida?
Paulo Moreira Leite
Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA