Quinta noite de protestos violentos contra racismo e violência policial nos EUA

REUTERS/Jonathan Drake
Manifestantes colocam fogo em uma farmácia de Raleigh, na Carolina do Sul, na noite desta sábado 30 de maio de 2020.
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Texto por: RFI

A indignação não diminui nos Estados Unidos. Seis dias após a morte de um homem negro por um policial branco em Minneapolis na segunda-feira (25), protestos violentos foram registrados na noite de sábado (30) e madrugada de domingo (31) em várias cidades do país.

Desde a morte de George Floyd, as últimas 24 horas foram as mais tensas com saques, incêndios e confrontos com policiais. Em Minneapolis, os manifestantes desafiaram o toque de recolher que entrou em vigor às 20h de sábado e voltaram às ruas para exigir justiça para Floyd, de 46 anos. A polícia de choque lançou bombas de gás lacrimogêneo e granadas para dispersar a multidão. Desde sexta-feira (29),a cidade de Minnesota, no nordeste dos Estados Unidos, é palco de violentas manifestações que ganharam o país.

Em Washington, Seattle ou Dallas, multidões se reuniram nas ruas para denunciar a violência policial e a discriminação racial no país. Confrontos entre a polícia e manifestantes ocorreram em Nova York, Los Angeles, Atlanta, Chicago ou Miami. Com exceção de Nova York, as autoridades municipais das outras quatro cidades decidiram decretar o toque de recolher para impedir cenas de violência, como em Minneapolis.

Mais de 200 detidos em NY

Em Nova York, mais de 200 pessoas foram detidas após incidentes violentos que deixaram vários policiais feridos. Um coquetel molotov foi lançado dentro de um carro da polícia ocupado, sem fazer vítimas.

Em Atlanta, veículos de radiopatrulha foram incendiados. Em Los Angeles, cinco policiais ficaram feridos e várias centenas de pessoas foram presas depois que uma manifestação, inicialmente pacífica, terminou com lojas incendiadas e saqueadas.

Trump promete acabar com os protestos

O presidente americano reagiu mais uma vez neste sábado aos tumultos dos últimos dias, falando da morte de George Floyd como uma "tragédia". Donald Trump prometeu acabar com os protestos, realizados, segundo ele, por "um pequeno grupo de criminosos, vândalos e anarquistas" que “desonram a memória” de George Floyd.

Segundo Trump, a “violência e vandalismo são o trabalho de Antifas (antifascistas) e outros grupos de extrema esquerda que aterrorizam inocentes, destroem empregos e empresas e queimam prédios. Hoje, os Estados Unidos precisam de criação, não de destruição. Precisam de segurança, não de caos. E não haverá caos! Apoiamos a grande maioria dos policiais extraordinários ​​e dedicados a servir o público. Nossas cidades estão seguras graças a eles. Eles nos protegem de gangues e drogas e arriscam suas vidas por nós todos os dias”, declarou o presidente.

O candidato democrata à eleição presidencial de novembro, Joe Biden, condenou a violência. Em um comunicado de imprensa, ele afirmou que as manifestações públicas são um direito da população, “mas incendiar e destruir cidades gratuitamente não”.

O governador de Minnesota, Tim Walz, denunciou a participação nos protestos de manifestantes que não moram na região. A situação em Minneapolis "não tem absolutamente nada a ver com o assassinato de George Floyd", disse o governador. De acordo com Walz, o objetivo dos protestos é "incutir medo e desestabilizar nossas cidades".

Exército em prontidão

Para tentar controlar a situação, o governador anunciou a inicialmente a mobilização dos 13.000 soldados da Guarda Nacional do Estado. Em seguida, ele indicou que havia solicitado também ajuda do Ministério da Defesa. Unidades da polícia militar estão em estado de alerta e podem intervir em Minneapolis em quatro horas, disse o Pentágono. A polícia militar só pode intervir legalmente no território americano em caso de insurreição.

Na noite de sexta-feira, 2.500 policiais e soldados da Guarda Nacional e a imposição do toque de recolher em Minneapolis não conseguiram impedir a escalada da violência, com numerosos saques e incêndios criminosos. O chefe da força de segurança de Minnesota, John Harrington, disse que eles enfrentaram "dezenas de milhares de manifestantes".

População limpa a cidade

Na manhã de sábado, moradores de Minneapolis, armados com vassouras e pás, tentaram retirar todos os destroços deixados pelos tumultos para dar uma outra imagem da cidade.

Outros habitantes, principalmente lojistas, se preparavam para outra noite difícil. Jack, dono de uma livraria, instalava placas de madeira nas janelas ainda intactas de sua loja, na esperança de protegê-las dos manifestantes. Em sua rua, quase todas as outras lojas foram incendiadas ou saqueados, relata nosso enviado especial a Minneapolis, Éric de Salve. "Os distúrbios já destruíram metade do bairro", explica Jack à reportagem da RFI. “Até agora, eu escapei. Mas isso é loucura", disse.

Em solidariedade, uma dúzia de outros comerciantes vieram ajudá-lo, como Marc, que afirmou ter defendido a sua loja com armas. "Os saqueadores chegaram atirando, nós revidamos e eles foram embora", conta. Marc não acredita que a polícia possa os proteger. “Eles estão sobrecarregados. Em algumas noites, os manifestantes são dez vezes mais numerosos", salienta.

Desde o início dos tumultos, vários grupos de vigilantes armados foram montados para proteger as lojas da cidade. Ao menos uma pessoa que tentava saquear um estabelecimento foi morta por um proprietário, informa Éric de Salve.

 Policial preso

O policial branco Derek Chauvin, que aparece em um vídeo pressionando o pescoço de George Floyd no chão por longos minutos, foi preso e acusado na sexta-feira por “homicídio culposo" e "ato cruel e perigoso que provoca a morte". Mas para os manifestantes e a família do ex-segurança isso não basta. Eles pedem o fim da impunidade policial nos Estados Unidos e querem que os outros três policiais que aparecem no vídeo também sejam presos. Os familiares de Floyd pedem ainda que Chauvin seja indiciado por “homicídio doloso, com premeditação”.

 (com informações de Éric de Salve e da AFP)

RFI

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