É hoje só, amanhã não tem mais? - Fernando Brito


A pesquisa da CNI, divulgada na noite de quarta-feira, ilustra bem como, além de uma enorme crueldade, é de completa inutilidade a ânsia de parte do empresariado, com Bolsonaro à frente, para que tudo reabra e a economia volta “à normalidade”.

Não há e não haverá normalidade, nem mesmo quando passar o auge desta epidemia, que nem sequer sabemos quando será e, cada vez mais, tememos que esteja longe.

Pois a pesquisa mostra que nada menos de três quartos das pessoas pretende reduzir seus níveis de consumo nos meses que se seguirem ao reinício das atividades do comércio.

Seja por medo (ou já realidade) da perda do emprego, pela redução da renda, pelo risco de circular, não haverá recuperação para o mercado de consumo e, como reflexo, para a indústria e os serviços.

Todas as contas – quase um puro “chute” – que se fazem sobre a queda do PIB (há números para escolher à vontade, de 3 a 11 negativos) contam com um parcial reaquecimento no terceiro e no quarto trimestre e há muitas dúvidas já se isso ocorrerá.

Baixar taxas de juros oficiais e liberar recursos dos compulsórios para que os bancos emprestem e financiem algum respiros ao consumo e aos investimentos, que já não funcionava antes, não vai funcionar neste cenário. Aliás, perguntem a qualquer pequeno ou médio empresário se ele acha nos bancos algo parecido a juros baixos…

Mal e mal, com as criminosas filas que se formam à frente das agências da Caixa, ainda se sustenta o comércio de alimentos e de artigos domésticos com o auxílio. Daqui a um mês e meio, nem isso, pois o presidente já anunciou que não o renovará, ainda que reconheça que é isso que está evitando saques nas periferias.

Ainda assim, cultivam a ilusão de que bastará passar o pior e se retomará com sucesso a política fiscalista, à procura de um superavit impossível, de lendários investimentos estrangeiros, de uma contabilidade primária onde a saúde da “empresa Brasil” se mede pelas colunas em azul, enquanto ela se desmonta e vai ao chão.

Assim como se deu ao senhor Nélson Teich a macabra tarefa de contar os mortos, sem qualquer reação ao avanço do Covid-19, parece que se mantém o senhor Paulo Guedes na função de zumbi econômico, atualmente dedicado à missão de convencer os seus chefes militares de que os investimentos estrangeiros virão se transformarmos o país numa liquidação de porta de garagem.

Temos, infelizmente, um elite política e econômica que, apesar de tudo estar se desenhando diante dela – como ocorreu com esta avisada pandemia – está presa a ideias que, ruins antes, já não tem qualquer aplicabilidade na realidade recessiva que virá.

Só uma política de investimento estatal, somada a um programa permanente de preservação do emprego e da renda, lentamente, será capaz de nos tirar do longo desastre que temos à frente.

Tijolaço

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