'As ações cometidas pela OEA no caso boliviano são absolutamente repudiáveis', afirma grupo; leia íntegra de comunicado
REDAÇÃO OPERA MUNDI
São Paulo (Brasil)
O Grupo de Puebla, organização formada por 30 líderes progressistas de 12 países da América Latina, divulgou na tarde desta quarta-feira (10/06) uma nota solicitando que a Organização dos Estados Americanos (OEA) "declare a legalidade das eleições à presidência de Evo Morales", realizada no dia 20 de outubro de 2019.
O fato de a OEA ter afirmado que havia indícios de fraude na eleição que reelegeu Morales teve consequências e levou, diz o grupo, "à radicalização da oposição política boliviana, tendo como consequência um golpe de Estado" contra o ex-presidente.
O comunicado vem após um estudo de pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e da Universidade de Tulane, divulgado pelo jornal New York Times, no qual se demonstrou, depois de uma análise da votação boliviana, que a OEA "não apresentou evidências de fraude nas eleições".
"Os pesquisadores demonstram que não houve variações nos padrões de votação, dentro dos recintos eleitorais, antes e depois da interrupção da contagem preliminar de votos. Inclusive, as trajetórias nas tendências de votação não variam em relação aos padrões eleitorais anteriores", afirma a nota.
A organização pede que a OEA esclareça "cada um dos elementos que foram contestados pelo estudo" e solicita ainda que a autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, entregue o cargo devido ao "atraso sistemático e inexplicável das eleições naquele país".
"As ações cometidas pela OEA no caso boliviano são absolutamente repudiáveis, uma vez que, se suas discricionariedades forem comprovadas, permitiriam à comunidade internacional presumir que a organização multilateral foi cúmplice da derrubada de um governo democrático", diz o grupo.
Ex-presidente Evo Morales renunciou ao cargo após pressão das Forças Armadas do país Enzo de Luca/ ABI |
Leia nota na íntegra:
O Grupo Puebla expressa sua preocupação com a nova evidência que esclarece a natureza precipitada e proposital da declaração da OEA , ao determinar a consumação de fraude eleitoral nas eleições realizadas na Bolívia em 20 de outubro de 2019. Este novo estudo demonstra que as evidências estatísticas disponibilizadas pela OEA são infundadas, de modo que as alegações de fraude eleitoral não têm sustentação.
O Grupo Puebla apela à comunidade internacional, com base nas dramáticas conseqüências que tiveram a observação eleitoral da OEA, considerando-as como um elemento que levou à radicalização da oposição política boliviana, tendo como consequência um golpe de estado contra o presidente da Bolívia, Evo Morales.
Conforme demonstra a análise dos pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e da Universidade de Tulane, Rodríguez, Idrobo e Kronick, referenciada pelo New York Times, a OEA não apresentou evidências de fraude nas eleições. Os pesquisadores demonstram que não houve variações nos padrões de votação, dentro dos recintos eleitorais, antes e depois da interrupção da contagem preliminar de votos. Inclusive, as trajetórias nas tendências de votação não variam em relação aos padrões eleitorais anteriores. Essa publicação se soma a outros estudos, como os dos pesquisadores do Laboratório Eleitoral do MIT, publicado no Washington Post e a outros vários estudos do Centro de Investigação de Economia e Política (CEPR).
As ações cometidas pela OEA no caso boliviano são absolutamente repudiáveis, uma vez que, se suas discricionariedades forem comprovadam, permitiriam à comunidade internacional presumir que a organização multilateral foi cúmplice da derrubada de um governo democrático.
Instamos a OEA a esclarecer imediatamente cada um dos elementos que foram contestados pelo estudo de Rodríguez, Idrobo e Kronick. Ao mesmo tempo, solicitamos a presença de uma comissão independente para não deixar tudo sob responsabilidade da Secretaria Geral da OEA, a fim de resguardar o próximo processo eleitoral previsto para setembro.
Por outro lado, instamos o governo da Bolívia, liderado por Jeanine Áñez Chávez, a entregar imediatamente o poder do Estado, devido ao atraso sistemático e inexplicável das eleições naquele país.
Assinado em 10 de junho de 2020
1. Celso Amorim
2. Ernesto Samper
3. Aloizio Mercadante
4. Fernando Lugo
5. Dilma Rousseff
6. Camilo Lagos
7. Mónica Xavier
8. Rafael Correa
9. Jorge Taiana
10. Guillaume Long
11. Marco Enríquez-Ominami
12. Fernando Haddad
13. Esperanza Martínez
14. Gabriela Rivadeneira
15. Clara López
16. Daniel Martínez
17. Carlos Ominami
17. Alejandro Navarro