Entenda a retratação de estudo sobre cloroquina e hidroxicloroquina

Pesquisa que saiu no The Lancet foi "despublicada" por não conseguir validar os dados divulgados — o que não significa que os medicamentos podem ser considerados seguros para a Covid-19


REDAÇÃO GALILEU

No último dia 22 de maio, a respeitada revista científica The Lancet publicou um estudo — divulgado pela GALILEU na mesma data — reiterando os riscos dos medicamentos cloroquina hidroxicloroquina contra a Covid-19. A pesquisa, que foi liderada por cientistas da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, analisou dados de quase 100 mil pessoas que testaram positivo para o novo coronavírus e concluiu que os medicamentos não são eficazes para o tratamento da Covid-19 e que, inclusive, aumentam o risco de morte.

A publicação da pesquisa levou, inclusive, a Organização Mundial da Saúde (OMS) a anunciar a interrupção de um estudo que investigava a eficácia da cloroquina e hidroxicloroquina contra a doença. Mas, nesta semana, a história ganhou um novo capítulo quando a empresa Surgisphere, que forneceu dados para o estudo publicado no Lancet, foi questionada por pesquisadores que não participaram do estudo de Harvard.

O questionamento chamou atenção dos editores do próprio The Lancet, que publicaram um comunicado na quarta-feira (3) dizendo que o estudo seria reavaliado. "Importantes questões científicas foram levantadas sobre dados [utilizados na pesquisa]", escreveram. "Uma auditoria independente da proveniência e validade dos dados foi encomendada por autores não afiliados à Surgisphere e está em andamento."

Horas antes, no mesmo dia 3, o New England Journal of Medicine, outro respeitado periódico científico, publicou um posicionamento manifestando preocupação por também ter divulgado um estudo baseado em dados da Surgisphere. O artigo, publicado em 1º de maio, relata que o uso de certos medicamentos para pressão arterial, incluindo inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), não aumenta o risco de morte entre pacientes com Covid-19, como sugeriram alguns pesquisadores.

A Surgisphere, no entanto, se negou a abrir os dados para a respectivas auditorias solicitadas pelo The Lancet e pelo New England Journal of Medicine. Com issi os próprios autores dos estudos passaram a questionar a veracidade dos dados. "Nossos revisores nos informaram que a Surgisphere não transferiria o conjunto de dados completo, os contratos dos clientes e o relatório de auditoria completo para análise, pois tal transferência violaria os requisitos de confidencialidade", escreveram os autores da pesquisa do The Lancet em uma retratação publicada nesta quinta-feira (4). "Com base nesse desenvolvimento, não podemos mais garantir a veracidade das fontes de dados primárias."

Levando todos estes desdobramentos em consideração, a OMS resolveu autorizar a retomada dos estudos com a cloroquina e a hidroxicloroquina. "O Comitê de Segurança e Monitoramento de Dados continuará monitorando de perto a segurança de todas as terapias sendo testadas no Estudo Solidariedade", disseram os representantes da instituição em comunicado.

Vale pontuar, no entanto, que esses episódios não anulam o fato de que faltam evidências científicas sobre a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a Covid-19 — até agora, nenhum estudo conseguiu provar que os medicamentos ajudam, de fato, a tratar a doença causada pelo novo coronavírus. 


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