“O nome deveria ser auxílio-humilhação”, diz mãe solo há 56 dias na espera do benefício emergencial




“O nome deveria ser auxílio-humilhação”, diz mãe solteira que espera há 56 dias pelo auxílio emergencial do governo

Ela fez o pedido do benefício no dia 07 de abril e ainda espera uma resposta

por Marcos Hermanson Pomar, especial para o Viomundo 

“Estou passando necessidade. Aluguel atrasado, contas vencidas, dentro de casa só tem arroz. Tenho um filho de 3 anos que me pede as coisas e não tenho de onde tirar. Como explico a ele que estou em análise e que ele precisa aguardar?”, pergunta a trabalhadora autônoma Camila Silva (30), moradora da cidade de Campinas, no interior paulista.

Ela se inscreveu no programa de Auxílio Emergencial do governo federal no dia 07 de abril.

Foi a partir daquela data que os cidadãos que não são beneficiários do Bolsa Família e não integram o CadÚnico puderam requisitar o benefício.

Dez dias depois, o aplicativo do Auxílio Emergencial começou a apresentar falhas, o que impediu Camila de checar o status de sua solicitação:

“Eu não conseguia ver, porque o aplicativo estava dando erro desde o dia 17. O código de verificação [enviado por SMS] não chegava”.
No dia 25, ela ligou na central 111 e recebeu a notícia de que não se encaixava nos critérios do benefício.

Camila vive sozinha com o filho Eduardo, de três anos. Carioca de nascença, ela não tem parentes ou conhecidos na cidade de Campinas (SP) que possam ajudá-la.

Como trabalhava vendendo lanches na rua, viu sua renda cair para zero quando as políticas sociais começaram a ser adotadas.

Mãe solo e trabalhadora autônoma, teria direito a receber três parcelas de R$ 1.200 do governo federal, mas até agora não viu nem a cor do dinheiro.

No dia 13 de maio, ela decidiu checar o novo site da Dataprev — lançado alguns dias antes — e descobriu que havia sido negada porque seus dados eram “inconclusivos”.

Só então pôde recorrer à decisão e refazer seu cadastro, e agora está “em análise”, aguardando a liberação da renda emergencial para poder pagar as contas de casa e comprar comida.

No desespero, Camila buscou ajuda em uma igreja do bairro: “Solicitei uma cesta básica numa igreja, e devo ter uma resposta essa semana”.

A trabalhadora classifica a demora do governo como “desumana”: [É uma] humilhação. O nome deveria ser auxílio humilhação. Porque [em] uma coisa que é pra ser emergencial eles deveriam ter mais transparência e agilidade”, argumenta ela.

Camila é uma entre 1,5 milhões de brasileiros que fizeram seus pedidos em abril e ainda aguardam análise para o auxílio emergencial do governo:

“É uma situação desesperadora. A gente não sabe o dia de amanhã, até quando vai durar a pandemia. As contas vão chegando e nada de uma resposta do governo. A gente precisa de uma posição. Não tem como ficar aguardando e aguardando. As contas não esperam, a comida não espera. A gente precisa sobreviver”.
No último sábado (30) a Caixa e a Dataprev concordaram em finalizar, dentro do prazo de 20 dias, todos os pedidos de análise feitos até aquela data.

O compromisso é resultado de uma ação civil pública movida pelos defensores públicos federais Carolina Godoy Leite Villaça, Sabrina Nunes Vieira e Sérgio Armanelli Gibson, da Defensoria Pública da União (DPU) de Minas Gerais.


Viomundo

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