Povo precisa se unir para controlar a COVID-19 no Brasil, diz virologista

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Ativista segura bandeira brasileira pintada com cruzes simbolizando os que morreram por COVID-19, durante protesto em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, Brasil, 14 de julho de 2020 © REUTERS / Adriano Machado

Após cinco meses desde o primeiro caso de COVID-19 no Brasil, o país tem um dos piores quadros nacionais da pandemia. Para discutir o quadro atual, a Sputnik Brasil ouviu um virologista da UFRJ que critica a postura do governo e aposta na consciência da população para controlar a doença.


Nesta segunda-feira (27), o Brasil chegou a 87.679 mortes pela COVID-19, acumulando um total de casos confirmados de 2.443.480. A média móvel de mortes, calculada pelo consórcio de veículos de imprensa, chega a 1.065 mortes diárias, expondo o drama epidemiológico que coloca o Brasil entre as nações com mais mortos pela doença todos os dias.

Davis Fernandes Ferreira, virologista, professor do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que a situação estaria melhor caso o governo tivesse promovido as medidas necessárias desde o início.

"De uma forma geral, partindo do governo, um bom exemplo lá de cima, e uma mão forte no sentido de apoiar o afastamento entre as pessoas, o uso de máscara e higienização, higiene pessoal, isso teria tido um grande impacto no começo. E se a gente conseguisse ter impactado o começo, ter diminuído a progressão do vírus, nós teríamos tido muito mais tempo para nos prepararmos e para não chegar na situação em que nós estamos agora", afirma o virologista em entrevista à Sputnik Brasil.

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Presidente Jair Bolsonaro mostra caixa de hidroxicloroquina para apoiadores do lado de fora do Palácio da Alvorada, em Brasília, 23 de julho de 2020  © AFP 2020 / EVARISTO S.A.

O virologista ressalta que as medidas de distanciamento social e adoção do uso de máscaras, implementadas no Brasil, principalmente pelos governos estaduais, não foram "contundentes o suficiente". Para ele, essa situação se deve justamente à falta do governo federal.

"Sempre foi colocada uma dúvida entre a população se isso era real ou não. Então isso tornou mais difícil o trabalho dos especialistas, do pessoal da área da saúde, de que convencer as pessoas que essas medidas eram adequadas", aponta o pesquisador.

Ferreira também aponta que a disputa política instaurada em torno da pandemia entre os governos federal e de alguns estados e municípios, prejudicou o combate à doença no Brasil. "Nós estamos em uma guerra e a gente ficou divido nessa guerra em termos de opiniões e ações, e o povo, infelizmente, está pagando o preço por causa disso".

Controle do vírus carece de ação conjunta da população

O virologista aponta que apesar do estágio avançado da pandemia no Brasil, ainda é importante a manutenção do distanciamento social e de medidas de proteção como o uso de máscaras e lavar as mãos constantemente.

"O vírus vai se comportar de acordo com o o comportamento da população. Não adianta nada culpar o governo se eu não faço a minha parte. Isso é uma ação em conjunto, não vale nada os âmbitos do governo – federal, estadual, municipal – concordarem com ações se a população não segue. Então estamos em uma situação em que a gente tem que se unir, o povo tem que se unir", afirma o pesquisador.

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Movimentação nas ruas e comércio nos arredores do Mercado Popular do Saara, no centro do Rio de Janeiro, durante a pandemia da COVID-19, em 10 de julho de 2020.  © FOLHAPRESS / FERNANDO SOUZA / AGIF

O professor Davis Fernandes Ferreira evita fazer estimativas para a diminuição da pandemia no país, mas garante que o Brasil ainda passará por altos até controlar a propagação do vírus. O virologista mantém o quanto ao incentivo para que a população se mantenha atenta nesse processo. "Acho que a gente tem que se animar e tenho certeza que se a gente procurar fazer a nossa parte, a gente vai conseguir diminuir bastante a propagação desse vírus".


Sputnik Brasil

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