Reprodução e Agência Brasil |
por Conceição Lemes
Deu nessa sexta-feira, 15/05, no Estadão:
Bolsonaro manda general assinar decreto que vai liberar cloroquina a todos os pacientes de covid-19
Alçado a chefe interino do Ministério da Saúde nesta sexta-feira, 15, o general Eduardo Pazuello deve assinar o novo protocolo da pasta que libera o uso da cloroquina até mesmo em pacientes com sintomas leves da covid-19.
A medida é uma determinação do presidente Jair Bolsonaro, que o oncologista Nelson Teich se recusou a cumprir.
Atualmente, a orientação é para profissionais do sistema público de saúde prescrever a substância apenas em casos mais graves.
A cloroquina e seu derivado, a hidroxicloroquina, são medicamentos usados há bastante para tratar malária, com manejo muito criterioso.
Porém, o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu capacho brasileiro, Jair Bolsonaro, insistem em “prescrevê-las” generalizadamente para a doença causada pelo novo coronavírus, a covid-19, apesar das evidências científicas contrárias.
Não há embasamento científico ou clínico comprovado para usar cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19.
Muitas entidades científicas, de saúde pública e bioética, no Brasil e no exterior, já se posicionaram contra o uso desses medicamentos na covid-19.
O Comitê Científico do Consórcio Nordeste, coordenado pelo neurocientista Miguel Nicolelis e o ex-ministro Sergio Rezende, reforçou no seu último boletim a recomendação contra o uso desses medicamentos, em qualquer fase da infecção produzida pelo coronavírus:
Estudos clínicos em múltiplos países demonstram, categoricamente, a inexistência de qualquer efeito terapêutico destes medicamentos e o gravíssimo risco de morte súbita por parada cardíaca irreversível.
O maior instituto de pesquisas do mundo, o National Institute of Health (NIH), anunciou na última quarta-feira, 22 de abril, que estes medicamentos não devem ser usados em pacientes com coronavírus.
Ainda seguindo recomendações do NIH, o Comitê Científico do Nordeste reafirma: só devem haver exceções para possíveis estudos clínicos randomizados que sigam todos os procedimentos dos comitês de ética locais.
“Impor o uso desses medicamentos sem eficácia comprovada e potencial enorme de reações adversas graves e até fatais é atitude irresponsável e criminosa”, afirma o médico sanitarista Arthur Chioro, ministro da Saúde no governo Dilma Rousseff.
Ele conclama os colegas médicos a observarem os princípios éticos e rejeitarem contundentemente tal imposição.
“Um novo ministro que se sujeite a esse absurdo deve ser repudiado e desrespeitado por todos os profissionais de saúde e pela sociedade”, defende.
“É inadmissível qualquer atitude de conivência com esse crime contra a sociedade brasileira”, arremata.
Viomundo